Mundo Plantae: Conhecer e Respeitar

Museu do Amanhã
5 min readApr 17, 2024

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Nina Pougy.

A botânica é o ramo da biologia que estuda o mundo das plantas, um universo surpreendente que abriga diversidade em todos os seus aspectos. São mais de 370 mil espécies de plantas no mundo, com diferentes hábitos, formas de vida, cores, texturas, cheiros, sabores, interações e comportamentos. Além disso, as plantas também respondem de formas variadas às adversidades, mostrando uma complexidade ainda mais impressionante — um tema explorado no artigo da pesquisadora Luana Santos, sobre a inteligência vegetal.

A diversidade no planeta pode nos surpreender ainda mais: estima-se que cerca de 9 mil espécies de árvores ainda podem ser descobertas. Em um estudo recente, pesquisadores calcularam a existência de 73 mil espécies de árvores no mundo, o que corresponde a um aumento de aproximadamente 14% em relação ao que conhecemos hoje. Isso significa que há um vasto universo por conhecer, principalmente, em territórios Amazônicos e Andinos, que segundo os mesmos pesquisadores, abrigam 40% das árvores ainda desconhecidas.

Em termos de diversidade botânica, o Brasil, que abriga 60% do território amazônico, se destaca como o país mais rico do mundo. São mais de 52 mil espécies conhecidas, sendo aproximadamente 40% delas endêmicas, ou seja, que ocorrem exclusivamente em território brasileiro. Essa diversidade está intimamente ligada às diferentes condições climáticas e de relevo do país, que oferecem ambientes diversos como florestas, campos, áreas úmidas, restingas, manguezais e outros. Além disso, esse número continua a crescer, com a catalogação regular de novas espécies de plantas — em média, 250 por ano.

Mesmo com toda essa riqueza, ainda há muito a se descobrir. Na Amazônia, uma nova espécie é reconhecida a cada dois dias. Por outro lado, na Caatinga, a falta de pesquisas e investimentos pode gerar uma visão distorcida, sugerindo que ela seja uma região pobre em termos de diversidade. Assim, é crucial direcionar esforços de pesquisa e recursos para áreas menos exploradas, a fim de expandir nosso conhecimento e promover uma conservação mais eficaz na ampla diversidade que nos cerca.

Além disso, regiões pouco conhecidas, como é o caso de algumas áreas no Norte do Brasil, enfrentam um perigo maior de serem transformadas em áreas de plantio, como de soja e cana-de-açúcar, ou em áreas de exploração mineral. O desmatamento nessas áreas está acontecendo muito rápido, ultrapassando nossa capacidade de conhecer e estudar todas as espécies que ali habitam. Isso significa que muitas espécies podem desaparecer antes mesmo de serem descobertas, registradas e compreendidas. Ou seja, algumas podem sumir sem nem sabermos que já existiram.

A falta de conhecimento, aliada às significativas transformações na paisagem, nos coloca diante de um grande desafio: conservar o mundo das plantas. Estamos testemunhando a extinção de espécies, parte delas que sequer chegamos a conhecer. E qual é o impacto disso? Em termos práticos, quais são as consequências dessas extinções? Primeiramente, há uma ampla discussão sobre o direito à vida — e além disso, à própria existência — um valor que carregamos conosco. A extinção de uma espécie tem consequências morais e éticas significativas. Mas para além disso, é possível que essa extinção tenha outras graves consequências.

A dificuldade de conhecer e estudar todas as espécies de plantas e suas interações na natureza nos leva a um território de incerteza. Para grande parte da biodiversidade do planeta, a resposta para a pergunta “O que acontece se essa espécie se extinguir?” é “Não sabemos”. O que sabemos é que sempre há uma grande perda. É uma vida perdida, são inúmeras interações ecológicas que mantêm o equilíbrio dos ecossistemas, perdidas. E ainda, se olharmos de uma forma mais utilitarista, podemos estar perdendo grandes potenciais medicinais ou alimentos essenciais que poderiam beneficiar a humanidade de maneira significativa.

Sobre o mundo das plantas, em especial sobre a importância de conhecer e proteger essa diversidade, Gustavo Martinelli, pesquisador do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Coordenador Geral do Centro Nacional de Conservação da Flora, conta sobre sua experiência:

“Durante minhas expedições científicas, ao retornar em áreas que antes eram ambientes equilibrados e diversos, hoje, vejo pastos, ou condomínios gigantescos, uma plantação, ou mesmo áreas desmatadas e abandonadas, e isso chamou muito a minha atenção. então eu mudei um pouco, saí do padrão estritamente acadêmico, cujas métricas são baseadas em quantos artigos você publica nas revistas científicas. Em um dado momento, pensei: se quero salvar alguma coisa, tenho que ultrapassar as fronteiras desse mundo, porque se eu escrever um artigo, que vai ser publicado nas grandes revistas importantes e famosas, qual o tempo para que um artigo impacte na prática em proteger um lugar, uma região, as espécies de plantas? E isso mudou meu rumo. Eu passei a me dedicar muito mais a ações práticas e emergenciais, a me preocupar muito mais com fazer ações de pesquisa básica, de registrar e documentar as espécies que caracterizam a importância de ações concretas voltadas para a conservação”

É crucial, portanto, ampliarmos nosso conhecimento, reconhecermos o valor da botânica e, principalmente, respeitarmos o mundo das plantas, regenerando as nossas conexões em prol de um futuro mais sustentável.

Links de menção e aprofundamento da leitura:

1- https://www.worldfloraonline.org/
2- Cazzolla Gatti et al. (2021). Disponível em: < https://doi.org/10.1073/pnas.2115329119 >.
3-Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: < http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ >. Acesso em: 15 Abr 2024

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